Volume I, Número III. 2020

ISSN 2674-8762 (online) 2674-8045 (impressa)

Edição na íntegra em formato .pdf

APRESENTAÇÃO – Governo Bolsonaro, pandemia e educação

Michel Goulart da Silva*

Desde o começo do ano vivemos uma pandemia que contaminou milhões de pessoas em todo mundo, levou à morte de milhares e que não tem previsão de terminar. Quando o novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo era improvável prever como se daria sua dinâmica, principalmente porque se sabia pouco sobre ele. Contudo, a despeito das poucas informações científicas disponíveis nos primeiros meses, estava claro desde o começo que políticas relativamente simples, como a diminuição de circulação de pessoas e o uso de máscaras, poderiam diminuir o espalhamento da doença e, por conseguinte, a quantidade de pessoas vítimas da doença.

Contudo, para a burguesia e os governos que representam seus interesses o que menos interessava era preservar a vida das pessoas. Quando isso parecia preocupá-los, na verdade queriam que essa força de trabalho se mantivesse saudável para continuar a ser explorada. Em todo o mundo burguesia e governos fizeram todo o esforço possível para que a economia voltasse a funcionar com uma pretensa normalidade, mesmo que para isso fosse preciso deixar uma pilha de cadáveres.

Para piorar, uma crise econômica em escala global, cujos sintomas se mostravam claramente havia meses, foi aprofundada pela pandemia. Diante disso, a burguesia fez de todo o possível para colocar nas costas dos trabalhadores a conta dos seus prejuízos. Nenhum governo hesitou em atacar direitos dos trabalhadores, se limitando a apresentar frágeis medidas compensatórias, como foi o caso do auxílio emergencial no Brasil.

No âmbito da educação, o debate que ganhou mais ênfase foi o do ensino remoto. Desde o começo da pandemia, a maioria dos trabalhadores em educação, sejam os professores de diferentes níveis de ensino ou os técnicos que dão suporte à atuação docente, atuaram neste modelo. Em muitos lugares foram implementadas ações que redundaram no fortalecimento do ensino à distância, por meio de contratos do Estado com grandes empresas e, em muito casos, transformando os docentes em meros tutores. Além disso, houve uma ampliação na carga de trabalho, com cargas horárias exaustivas. O Estado economizou nesse processo, em despesas como deslocamento, energia elétrica e manutenção dos espaços físicos. Boa parte dessas despesas foram assumidas pelos trabalhadores, atuando em suas casas, com os mesmos salários que tinham antes. Salários que seguem sendo corroídos pelo aumento dos preços de bens de necessidade básica. Como conclusão desse terrível cenário, vários governos buscam promover o retorno às aulas presenciais, provocando uma nova onda de contaminação e colocando em risco a vida de estudantes, de seus familiares e dos trabalhadores da educação.

Esta edição do Potemkin procura discutir alguns elementos desse cenário. Procura-se mostrar como as políticas do governo Bolsonaro, ao responder aos interesses da burguesia, levaram o Brasil à beira de um verdadeiro genocídio. Discute-se o papel da tecnologia nesse cenário, com suas promessas e esperanças, mas sem deixar de responder aos interesses do capital. Debate-se aspectos relacionados à cultura, casos dos textos sobre a construção da imagem pública do atual presidente, e sobre ações relacionadas à política de cotas na educação pública. Este volume conta ainda com a apresentação dos resultados de uma pesquisa realizada pelo GT Atividades Remotas, instituído pelo SINASEFE Litoral para acompanhar o trabalho remoto dos servidores no Instituto Federal Catarinense.

Potemkin cumpre, assim, seu papel de apresentar reflexões críticas sobre o mundo do trabalho, a conjuntura política e a situação da educação, diante da dupla crise, econômica e sanitária. Pode-se, por meio dessas reflexões, avançar na formação teórica e política tanto dos filiados ao sindicato como dos trabalhadores em geral, constituindo a publicação como um importante instrumento na luta e na organização dos trabalhadores.

*Michel Goulart da Silva realizou estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), é doutor em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Técnico em Assuntos Educacionais no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC). Editor da publicação.

Textos individuais da edição (em .pdf):

APRESENTAÇÃO | Governo Bolsonaro, pandemia e educação
Michel Goulart da Silva

O capital e o uso oportunista do genocídio como acelerador da reversão civilizacional: notas sobre a luta de classes no Brasil de Bolsonaro
Gabriel Magalhães

Da Utopia 4.0 ao Caos da mão invisível: a pandemia tecnológica
Paula Andrea Grawieski Civiero e Ricardo Scopel Velho

A centralidade da cultura: o fenômeno ‘mito’ Bolsonaro
Luís Carlos Borges dos Santos

Trabalho remoto: um olhar dos servidores e servidoras do Instituto Federal Catarinense
Deivis Elton S. Frainer, Fernando José Braz, Guilherme Migliorini, Herlon Iran Rosa, João Victor B. M. e Silva, Marina Leal, Roberta Raquel e Suelen Cristine Fruneaux

Movimentos sociais da atualidade, Capital, Escolarização do Negro e participação no Mercado de Trabalho
José Carlos de Oliveira Ribeiro e Arlete Ramos dos Santos

Cotas na educação: perspectivas de cidadania e interculturalidade
Renan Eduardo Silva e Marlene Tirlei Koldehoff Lauermann

RESENHA | Helena x Helena: a luta das contrárias que move o mundo
Dalton L. de M. Reis

RESENHA | Revisitando as jornadas de junho de 2013 com os olhos de 2020
Raíssa Tavares Cortez